Pareço normal, mas tenho preconceito com quem só passa esmalte nude
e francesinha, branquinho, rosinha, marronzinho... urgh!
Caso seja você uma usuária desses tons, calma, deixa eu me defender. Ou não, sei lá, acho que nossos preconceitos talvez não sejam passíveis de defesa. Mas eu posso ao menos me explicar.
Estava eu deitada na maca da esteticista, ajeitando minhas sobrancelhas, enquanto escuto a conversa de uma outra cliente com a manicure. A cliente em questão estava escolhendo a cor do esmalte e foi mais ou menos assim:
“ah, eu quero aquele tom de nude ali clarinho”
“tem certeza? você sempre passa esse”
“então aquele outro ali, mais marronzinho”
“mas esse você já passou também”
“mas faz tempo”
“então tá bom”
“ai, pode ser aquele outro ali então”
*manicure pega a suposta nova cor*
“ai, mas esse é muito lilás! não vai ficar bom” - e eu deitada de olho fechado tentanto imaginar que tom de nude que parece lilás, mas enfim
a outra manicure entra na conversa:
“semana passada eu pintei a unha da fulana de vermelho! ela nunca tinha passado”
“ah, eu até acho vermelho bonito, mas não”
“você podia tentar uma cor diferente”
“mas qual?”
e nisso eu grito, lá da outra sala, me metendo numa conversa na qual eu definitivamente não fui chamada “AMARELO! LARANJA! ROXO!”
“ela não tem essas cores aqui”
“tem sim, oxi, eu já usei”
e então reinou o silêncio no salão e na minha cabeça a certeza de que eu deveria ter ficado quieta.
Quem sou eu pra dizer que cor a moça tem que usar, sabe? Esse impulso foi definitivamente motivado pela TPM. Só que, além do óbvio desequilíbrio hormonal, a base dessa minha revolta contra as cores de unha mais sem graça que existem nasceu das centenas de conversas parecidas que já presenciei no salão - e na vida.
Eu não era vaidosa, sabe, só que é difícil passar a impressão de ser uma empresária bem sucedida sem estar minimamente bem cuidada (odeio esses estereótipos, fazer o que). Sempre fiz minhas próprias unhas em casa e até que eu me saía bem, porém a falta de tempo e o fato de abrir a minha loja literalmente embaixo de um salão me impulsionaram a incluir a manicure na minha agenda, ao menos uma vez ao mês, atualmente duas (madame, ela).
Enquanto tô ali cuidando dos meus cascos e divagando sobre qual o meu humor do dia para definir a cor, escuto as outras clientes sucessivamente optando por francesinha, branquinho e tons de nude. TODA VEZ. E nisso eu descobri que sou provavelmente a cliente mais ousada em matéria de unhas! Que título bizarro e por que isso me incomoda? Pois é, estranha.
Bom, eu já gabaritei o arco-íris e além. Vermelho tem uma certa recorrência, porque eu acho que combina com os eventos que faço e tudo o mais, é inegavelmente mais sexy e feminino do que verde limão. Só que eu (infelizmente) não tenho evento toda semana, então pra que vou criar uma relação monogâmica e fiel com uma cor? Vamos de laranja, que eu amo. Azul, todos os tons, bora tentar. Roxo? Amo. Verde é minha cor preferida, lógico que vou pintar de verde. Preto quando tô mais gótica suave. Amarelo eu amei, mostarda achei meio esquisito depois de uns dias. Eu inclusive fiz francesinha uma vez e odiei com todas as minhas forças, não via a hora de tirar! Mas eu dei uma chance, esse é o ponto, entende?
Apesar de parecer, essa não é uma discussão fútil sobre cor de unha. É sobre coragem, ousadia, vontade de viver. Impressionante as reflexões que temos deitadas para procedimentos estéticos.
Quanto tempo dura uma unha pintada? Se for esmalte convencional e cuidar bem, uma semana, dez dias no máximo do máximo. Esmaltação em gel pode durar um mês, mas com três semana já fica bem zuado, é legal fazer a manutenção a cada duas semanas. Sério que você fica TÃO preocupada assim com uma unha um pouquinho diferente ou mais chamativa por duas semanas? A menos que seu emprego exija um certo “nail code” (isso existir em 2025 é bizarro) ou que em sua profissão unhas claras sejam mais adequadas (normalmente, cirurgiãs não podem usar esmaltes escuros), não consigo pensar em nenhum motivo pra você não variar e sair da sua zona de conforto um pouquinho.
Eu super entendo não fazer loucuras no cabelo, normalmente dá um trabalho do cacete arrumar uma tintura mal feita e um corte impensado. Mas a unha???? Duas semanas, cara.
Agora vamos aprofundar essa conversa, eu tô parecendo uma obcecada por esmaltes.
Se você não se dá a oportunidade de ousar um pouquinho que seja na cor da sua unha, como anda seu nível de ousadia num geral? Você consegue se arriscar a tentar coisas diferentes na vida? A mudar o que não tá te satisfazendo? A pedir pelo que realmente quer, ao invés de repetir o que disseram que você deveria querer? Você tem coragem de bancar quem você é por trás do que a sociedade espera que você seja? E como sexóloga, eu preciso perguntar, você explora as possibilidades deliciosas e divertidas do sexo, ou na cama você só anda se deparando com alguns opacos tons pastel?
Pois é, isso não é sobre esmalte.
Talvez eu não devesse julgar as pessoas pelos tons que elas pintam as unhas. Só que eu julgo, é mais forte do que eu. Por trás de quem SEMPRE pinta as unhas em tons sem graça, eu imagino que tá faltando um pouco de tempero na vida. Ou talvez a minha vida que seja temperada demais e por isso eu sinto essa necessidade de externalizar um pouco em cores mais vibrantes. É uma auto-crítica também, viu?
Sei lá, eu só não quero que as mulheres continuem se tolhindo para “caber”, entende? Eu quero que todas nós tenhamos coragem e força para sustentar nossas escolhas, mesmo que elas pareçam controversas para os outros. Eu quero ver mulheres experimentando, vivendo, mudando, voltando atrás se necessário - quem nunca? Eu quero que usem esmalte nude, sim, mas que ao menos experimentem a sensação de ostentar por aí umas cores mais doidas de vez em quando. A vida fica muito cinza quando a gente se esquece que é nossa função botar cor nela.
Essa reflexão fez sentido por aí? Então que tal compartilhar com alguma amiga que também vai gostar de ler?
Unhas azul escuro, porque de TPM eu gosto de cores escuras
Não é minha cor mais ousada, mas é a que tô hoje, então é isso.
O que você sentiu ao ler esta reflexão? Deixe um comentário, tô doida pra saber!
MUITO OBRIGADAAAAAAA
Seu texto me fez rir, pensar, me identificar e até me perguntar que tom eu ando escolhendo pra minhas unhas e pra viver.
É sobre o quanto a gente se permite ou se limita, no detalhe e no todo.
Obrigada por dar cor a isso, literalmente.