imagem do meu bolo de aniversário do ano passado pra ilustrar o momento
Os trinta batem na minha porta e eu não tenho certeza se quero abrir. Só que a minha vontade pouco importa quando comparada ao deus Cronos que engole tudo, que comanda a passagem implacável do tempo. Eu tenho duas opções: ou eu abro a porta e recebo os trinta de bom grado, ofereço um cafézin, talvez… ou ele vai entrar de qualquer jeito, derrubando a porta, o batente e as paredes junto, pra sentar no meu sofá, mudar de canal na TV e ainda me pedir pra buscar uma cerveja. Assumindo o seu lugar.
Tá bom, fui longe na metáfora, justamente por isso quero deixar bem claro que não tenho medo de envelhecer ou algo do tipo. Pra começar, eu acho que a maturidade nos traz liberdades impensáveis quando somos jovens. Segundo que, sem falsa modéstia por aqui, tenho plena consciência de que aos 29 estou infinitamente mais bonita, gostosa e bem cuidada do que aos 19. O colágeno talvez não seja mais o mesmo, mas aquela jovenzinha só tinha a juventude ao seu favor, viu? A mulher de hoje tá uma gata!
O grande problema talvez seja o fato de que não me sinto com trinta. Me sinto com 7, com 12, com 23… alguns dias, me sinto com 55, 62, 78… (sério!) Mas com trinta? Não, não é possível que eu vá fazer trinta.
Eu vou culpar a astrologia e o retorno de Saturno (outro nome pra Cronos, caso você queira saber). Eu, acostumada que estou a mudar de caminho, recalcular a rota, admitir minhas incertezas, achei que finalmente estava ok com isso. E Saturno retornou tacando os anéis tudo na minha cara, me mostrando que a vida é qualquer coisa, menos previsível, que qualquer mínima certeza que eu imaginava possuir, não é certeza nenhuma.
E é claro que isso é uma coisa boa! A Letícia de abril de 2024 estava chorando em posição fetal por problemas beeeeem complicados. A Letícia de maio de 2025 viveu uma revolução incrível nos últimos 12 meses e afirma estar na melhor fase de sua vida, em todos os sentidos. O universo puxou o meu tapete e me jogou no chão… depois me mostrou que esse tapete é um cobertor quentinho, então me aninhou e me cobriu com um manto de contentamento que eu nem sonhava existir na vida real.
É, eu acho que esse é um bom estado de espírito para começar os trinta. Aquele chichê dos mils motivos pra agradecer e tudo o mais, sabe? Contudo, apesar da era good vibes na qual me encontro, ainda acho um tanto assustador mudar de faixa etária. Ter uma idade que começa com 3, não com 2. Que besteira isso!
Outro motivo da minha relutância em admitir a passagem dos anos é que eu não estou onde eu achava que uma pessoa de 30 deve estar. Como toda millenial, cresci com o pensamento de que aos 30 o certo é ter casa própria, carro, uma vida bem estável. E hoje na real eu nem quero essas coisas! Cruzes, pra que comprar casa, sabe? Eu adoro me mudar. Então o real problema é como eu me sinto… entendeu a profundidade da questão?
Eu achei que nessa idade eu não me sentiria assim, volúvel igual uma adolescente, que muda de ideia toda semana. Eu tinha a doce ilusão de que teria um caminho bem traçado e permaneceria nele, seguindo as curvas, declives e aclives do próprio caminho em si. Não pensei que eu fosse querer mudar de caminho o tempo todo, só porque enjoei. Eu sei, eu sei, tá tudo bem mudar de rota. Mas que saco, hein? Será que é imaturidade minha não saber tomar uma decisão e mantê-la?
Nesse ponto, quero acrescentar algo: a escrita desse texto foi interrompida pelo meu marido, atraído ao me ouvir espancando o teclado, que veio me perguntar o que havia me inspirado tanto. Quando contei o tema da newsletter, ele me lembrou que por muito tempo que achei que não chegaria aos trinta. Então é uma data para se comemorar ainda mais.
Vamos ao contexto.
Eu sempre achei que morreria cedo. Pois é, desde criança, eu tinha a impressão de que nem precisava me preocupar com a idade em si, porque não viveria o suficiente pra isso. Na minha cabeça, eu morreria, com uns 22, 23 anos. Bizarro né?
E mais bizarro ainda é que com 23 anos eu sofri um acidente de carro feio, que realmente mudou minha vida. Até me arrepio em escrever isso. Acho que já contei sobre isso em outra newsletter, se não contei, fica de tema para uma próxima edição. Eu achei que tinha morrido nesse acidente e quando percebi que estava viva da silva entrei em choque, foi um daqueles momentos catárticos e profundos, sabe? Depois desse acidente eu tive coragem de admitir que não queria mais exercer a medicina veterinária, então busquei meu outro caminho e me aventurei pelo universo da sexualidade humana. Provavelmente a melhor decisão da minha vida!
Então, realmente, aquela Letícia não chegou aos trinta. Mas eu cheguei. E se abraçar minhas mudanças foi o que me trouxe até aqui, talvez seja legal eu continuar acolhendo esse meu aspecto volátil, por mais confuso que ele pareça. Talvez, só talvez, essa parte minha que é inquieta e curiosa seja o que vai me levar até os quarenta, cinquenta, sessenta… vou viver pra ver.
Essa reflexão fez sentido por aí? Então que tal compartilhar com alguma amiga que também vai gostar de ler?
PS:
Juro que eu tentei achar alguma edição contando do meu acidente e não encontrei, então aguardem que abordarei o assunto num próximo surto de inspiração. Eu acho a história bem engraçada, apesar de quase ninguém rir quando eu conto que achei que tinha morrido… deixarei para que você faça seu próprio julgamento quando souber a história inteira.
O que você sentiu ao ler esta reflexão? Deixe um comentário, tô doida pra saber!
Os 30 têm sido a melhor fase da minha vida. E isso vem de alguém que não esperava passar dos 25. Que você descubra muitos novos prazeres daqui para a frente.
Gostei muito da leitura e vou te acompanhar por aqui! (: