A solidão do homem hétero | reflexões de prazer
A falta de repertório emocional e a proibição ao sentir
Os homens são solitários, os héteros principalmente. Nossa sociedade oprime as mulheres, isso é evidente, porém há também uma enorme opressão sobre os homens. A eles, não é permitido o sentir. Podem falar e fazer de tudo, desde que evitem os tópicos relacionados a como se sentem. Desde que finjam que não se importam, que não sentem dor, que não amam. O problema é que eles se importam, sofrem e amam, sim, e todos esses sentimentos represados podem culminar em acessos de raiva ou afastamentos gelados, que magoam ainda mais todos os envolvidos.
Aos meninos, não ensinam repertório emocional, dificultando, portanto, até mesmo a expressão daqueles que tomam fôlego, se enchem de coragem e decidem expor o que se passa em suas mentes e corações angustiados. E sabemos muito bem que há um certo julgamento por parte da sociedade aos homens que se vulnerabilizam; muita gente não sabe lidar com aqueles denominados – pejorativamente, ouso dizer – sensíveis.
Eu vejo muitos homens adultos que simplesmente não tem um grupo de amigos próximos. Até possuem alguns com quem tomar uma cerveja de vez em quando, mas não passa disso, é como se a relação nunca se aprofundasse da mesma forma que as relações femininas, cujos vínculos são tão fortes que o mundo pode cair inteirinho, uma não solta a mão da outra. E qual será que é o impacto disso no relacionamento desse homens com suas namoradas ou esposas?
Eu observo dois extremos:
o homem que passa a se apoiar na mulher para absolutamente tudo. Ela se torna melhor amiga, conselheira, terapeuta, parceira de rolê… além de suas outras atribuições inerentes ao papel de cônjuge, é claro.
o homem que constrói um muro aparentemente impenetrável e não consegue se abrir com ninguém. Cria certo distanciamento até com a própria esposa e pode ser que busque sex workers que de alguma forma reduzam a carência que não consegue admitir que sente.
O primeiro tipo acaba gerando uma sobrecarga no relacionamento, afinal, para existir fogo é preciso que exista ar. Traduzindo: todo mundo precisa de espaço para exercer sua individualidade. E não me leve a mal, eu e meu marido somos super próximos e fazemos quase tudo juntos, mas se dar bem com a sua parceria não é sinônimo de recorrer a ela em todas as esferas da sua vida.
O segundo tipo é bem triste, reflete o impacto do patriarcado que prega essa postura de “machão”. Sem espaço ou abertura para intimidade verdadeira, esse homem se cala em seu sofrimento e mal consegue admitir para si próprio que há algo errado, que sustentar essa postura às vezes é pesado demais.
Espero sinceramente que esse cenário mude com as próximas gerações, com meninos que já cresçam com uma mentalidade mais aberta, capazes de criar conexões mais fortes tanto com os amigos quanto com suas parceiras. Até lá, seguimos tentando compreender melhor os homens à nossa volta, até mesmo nossos pais e avôs, porque no fim das contas todo mundo quer ser ouvido, amado e acolhido, mesmo sem ter a consciência disso.
Essa reflexão fez sentido por aí? Então que tal compartilhar com alguma amiga que também vai gostar de ler?
Que tal se aprofundar nesse tema?
Algo para ler:
Bell Hooks né? Sempre vale a pena ler o que ela tem para nos contar sobre a vida. Nesse livro, além de argumentar sobre como a masculinidade tóxica reprime as emoções masculinos e os deixa desconectados do sentir, a deusa também propõe formas de reformular essa masculinidade e incentivar os homens a se reconectarem com si próprios e com os outros.
Algo para assistir:
Esse documentário explora como a presão para performar esterótipos de masculinidade rígidos culima em problemas de saúde mental e violência, prejudicando a sociedade comio um todo, além dos próprios homens e meninos, é claro.
Creio que antes esse material estava disponível na Netflix, mas parece que retiraram do catálogo. Encontrei ele completo no Youtube, então tá facinho pra todo mundo assistir.
O que você sentiu ao ler esta reflexão? Deixe um comentário, tô doida pra saber!